«Lavrador Café», oleo de Cândido Portinari[i]
Petrônio Pereira de Souza
O Brasil vive uma grande tragicomédia. Temos desde palhaço e políticos até uma minoria séria. Os últimos acontecimentos são estarrecedores. Nosso Congresso Nacional é constituído de 2/3 de Deputados corruptos e em sua grande parte investigado pela Operação Lava Jato[ii], que é uma investigação em andamento realizada pela polícia federal, e que foi deflagrada em 17 de março de 2014. Ela já colocou dezenas de empresários e alguns políticos na cadeia. Ao ocorrer a aceitação do processo de impeachment na Câmara e no Senado Federal a presidente Dilma Rousseff foi afastada do cargo por até 180 dias onde ocorrerá a finalização do julgamento de seu impedimento. Em seu governo havia 8 ministros envolvidos nessa operação por corrupção.
O novo governo comandado pelo vice-Presidente, agora Presidente interino Michel Temer, nomeou, da mesma forma para seus ministérios, vários personagens envolvidos na operação Lava Jato. Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Não há qualquer desculpa para tais nomeações. Os últimos acontecimentos, gravações de conversas assombrosas, colocam em jogo a moral e o cargo do presidente do Senado e outros tantos políticos importantes. O Brasil tem um Congresso que está em sua mais rasa competência e ética política da história. O presidente da câmara Federal, Eduardo Cunha, foi afastado e, seu substituto direto, Waldir Maranhão é acusado de fraudar eleições. Hoje dia, o país está literalmente parado e as instituições numa crise jamais vista. Não fosse a Polícia Federal estaríamos aniquilados. Foi instaurada uma crise econômica sem precedentes, cerca de 12% de desemprego para a população economicamente ativa, 24% de desemprego para jovens até 25 anos, a saúde sendo atingida de maneira vergonhosa e a educação caminhando para seu esfacelamento. Há um desânimo visível por parte da população. Teremos indiscutivelmente, no próximo mês de outubro, uma das mais difíceis eleições das últimas décadas. Não há no Brasil lideranças políticas, o saco esvaziou, a panela está sem seus bons grãos.
«Café», oleo de Cândido Portinari
Mesmo vivendo toda a situação em que nos encontramos, o nível dos políticos é tão baixo que ainda lhes falta a capacidade de entender que precisamos de um projeto de país que jamais houve desde a época do império. A impressionante cultura da corrupção parece invencível e, por conta dela, buscar uma solução nos parece impossível. Necessitamos de uma reforma política, mas com esses congressistas trata-se de algo irreal. Eles a fariam ao molde daquilo que lhes convém, o que fosse ser melhor para eles e não para o Brasil. Teríamos que buscar um projeto econômico, político, de educação, de saúde, de previdência de geração de emprego, estrutura etc. Criar metas a serem atingidas em cada uma dessas principais questões e estipular em quantos anos. Isso não é sonho, existem vários países no mundo que buscaram e conquistaram uma sociedade mais justa a partir desse pensamento e prática. O Congresso brasileiro não tem capacidade intelectual, portanto, não tem competência. Nossos ministérios são apenas cargos políticos, dificilmente são ocupados por gente que tenha capacidade, habilidade.
A Previdência Social é outra aberração. Gostaria de não usar termos ofensivos ou linguagem grosseira para atingir a compreensão, mas, a “falta de vergonha” de novos ministros em propor mexer na aposentadoria dos brasileiros chegou a ser pretenção de gente que realmente não tem qualquer compromisso com o país. Dos 31 milhões de aposentados, 1 milhão corresponde a servidores públicos que criam um déficit de cerca de R$ 61 bilhões (cerca de U$ 17 bilhões) e os outros 30 milhões de aposentados criam um déficit de R$ 50 bilhões (cerca de U$ 14 bilhões). A matemática está feita, basta qualquer criança em seus primeiros passos das ciências exatas para verificar onde está o verdadeiro déficit das contas da Previdência, ela está nos privilegiados, entre os quais, dos que fazem essas leis. Mas, o governo quer mudar a idade mínima do povo trabalhador, inclusive aqueles que já possuem seus direitos adquiridos. Na realidade, eles não querem mais aposentar o povo brasileiro. Vão criar uma situação de pobreza para a miséria calculada. Esse é o projeto de um grupo de extrema direita do país e sem compromisso com a sociedade brasileira. Vamos ver para que servem os sindicatos, que aliás, nas últimas décadas não tem feito outra coisa, se não, defender os interesses patronais e cuidar delicadamente de seus umbigos. Certamente darão a apunhalada traidora após as eleições. Vivemos num país sem seriedade, ao contrário dos que dizem país sem dono, nós vivemos num país com “Donos”, que fazem dele o que querem, sem compromisso com o povo, apenas com seus interesses escusos pessoais. O povo brasileiro é humilhado e não há quem os defenda e, em sua ignorância profunda, se aprofunda sua miséria e morrerão muitas gerações sem a certeza de um dia melhor.
Precisamos de novas lideranças, de pessoas que querem pensar a política e o Brasil. Precisamos de partidos que tenham interesses reais de buscar uma solução para a nova era da política brasileira e do mundo. Vivemos momentos de profunda crise em vários países da América Latina. Temos que nos reunir para repensar nossos países, nosso futuro. Precisamos encontrar pessoas que tenham interesses verdadeiros em buscar uma solução para a pobreza e miséria econômica, política e de espírito de nossos homens.
«Retirantes» de Cândido Portinari
[i] Um dos mais renomados pintores contemporâneos no Brasil, militante comunista até o fim de seus dias, (membro do PC do B) O artista pintou painéis Guerra e Paz, na sede da ONU em NY, e o mural da Biblioteca do Congresso em Washington.
[ii] http://lavajato.mpf.mp.br/atuacao-na-1a-instancia/resultados/a-lava-jato-em-numeros-1
ANÁLISIS POLÍTICO Y ECONÓMICO 